Soltar pontinhos na fivela do cinto da Selic já dará folga para a economia

Reunido nesta quarta-feira (2), o Copom (Comitê de Política Monetária) deve, finalmente, decidir o início de um ciclo de cortes nas taxas básicas de juros (taxa Selic). A expectativa é a que de o corte inicial seja de 0,25 ponto percentual, sobre o atual nível de 13,75%, reduzindo a taxa básica a 13,5%, primeira alteração em um ano.

Se a aposta majoritária dos analistas se confirmar, a marcha da redução dos juros básicos continuará com reduções de 0,5 ponto, nas três reuniões restantes em 2023, encerrando o ano com a taxa Selic em 12%. O ciclo de cortes se alongaria pelos anos de 2024, quando os juros básicos desceriam, em dezembro, a 9,25%, e 2025, chegando a 8,75%, no fim daquele ano.

Há pressões, principalmente vindo do governo Lula, comandadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mas com suporte em parcelas do mercado financeiro, para que o ciclo de cortes previsto comece em ritmo um pouco mais forte, de 0,5 ponto já agora em agosto.

Mesmo pequeno corte de juros tem efeito favorável

Pesam na direção de um corte mais fundo projeções de inflação moderada e nível de atividade avançando ao longo de 2023 em ritmo mais lento do que o registrado no primeiro trimestre. Na direção contrária, de iniciar com uma redução de 0,25 ponto, há a expectativa de que a inflação só se acomode dentro do intervalo do sistema de metas em fins de 2024.

Uma redução de 0,25 ponto, ou mesmo 0,5 ponto, movendo a taxa básica, depois de um ano estacionada em bastante alto, para 13,5% ou 13,25%, pode parecer um duelo por tostões. Ainda mais que as taxas de juros efetivas cobradas no segmento livre ainda rodam, em média, em torno de 40%, para pessoas físicas, e 15%, para empresas. Sem falar em exorbitâncias como o cheque especial, em que os juros anuais médios passam de 100% ao ano ou o rotativo do cartão de crédito, que chega a 300% ao ano. Mas iniciar um ciclo de cortes da Selic seria um sinal de distensão nos freios que a política de juros tem imposto à atividade econômica.

Juros menores significam mais dinheiro na praça

A taxa Selic expressa os juros de referência do mercado financeiro, a partir do qual são fixados os custos de todas as demais modalidades. Qualquer redução na taxa básica opera na direção de aumentar a oferta de crédito e, em consequência, reduzir o custo dos financiamentos. Só a expectativa de corte nos juros Selic já estava produzindo recuos nas taxas efetivas cobradas, como confirmou o Banco Central, na divulgação mais recente dos movimentos do crédito, referente a junho.

Ao decidir um corte dos juros básicos, o BC ajusta o volume de dinheiro em circulação na economia, para que a decisão tenha efeito concreto. Para tanto, são realizadas operações de venda e compra de títulos públicos, que promovem retirada ou injeção de recursos e asseguram a manutenção de um montante de dinheiro disponível compatível com a taxa básica definida.

Reduções concretas nas taxas básicas significam que haverá mais dinheiro em circulação no mercado e que, em consequência, o custo dos empréstimos tenderá a ser menor. Também ajudarão na rolagem da dívida pública, que poderá ser negociada em volumes maiores a custos menores. A redução de juros básicos, mesmo que pequena, pode ainda ser crucial para a decisão empresarial de investir em novos negócios, ou na ampliação e modernização dos já existentes.

Mais equilíbrio na economia, mais atividade

A perspectiva é de que, com mais equilíbrio na economia — política fiscal com gastos compensados por receitas e política monetária menos restritiva —, a atividade econômica ganhe maior sustentação. Além da redução nos custos de financiamento, esse impulso na atividade, com ampliação do consumo, é chave para as decisões privadas de investimento.

Mais investimentos tendem a impulsionar o emprego — de pessoas e de bens e serviços, fatores de produção. Custo de financiamento mais baixo também ajuda a incrementar decisões de consumo, via crediário. Se as perspectivas são de que haverá um ciclo consistente de redução dos juros básicos, aumentam as chances de que a economia entre num circuito virtuoso de produção e renda.

Em resumo, e simplificando, soltar um pontinho na fivela do cinto não significa que a calça ficará folgada na barriga. Indica que haverá espaço para mais produção na economia.

Fonte: UOL (Artigo de opinião)