No dia nove de outubro, o Conselho Superior do Agronegócio (Cosag) da Fiesp promoveu um debate sobre a importância e as possibilidades dos biocombustíveis no cenário nacional e especialmente para o agronegócio. Na aviação brasileira, o combustível sustentável de aviação (SAF) tem papel importante, conforme alertou o presidente do Cosag, Jacyr Costa.
Essa importância foi explicada pelo vice-presidente de Engenharia da aviação comercial da Embraer, Maurício Martins de Almeida Filho. Martins afirma que a aviação movimenta em torno de 4,5 bilhões de passageiros por ano e 61 milhões de toneladas de carga, sendo essencial para o transporte de bens de alto valor e perecíveis: 35% do valor transportado e menos de 1% do volume. Além disso, 58% dos turistas chegam no seu destino através de transporte aéreo.
Esses números resultam em um impacto econômico mundial estimado de 3,5 trilhões de dólares, gerando empregos para 88 milhões de pessoas no mundo. Ele pontua que o Brasil tem grande oportunidade de se tornar líder mundial na produção de SAF em função de seu conhecimento na produção de matérias-primas e biocombustíveis.
O diretor de sustentabilidade e parcerias da Boeing para a América Latina, Otávio Cavalett, trouxe outros dados e a preocupação de emissão líquida zero em 2050, o que envolve diversos atores. Entre os pilares estratégicos da empresa, aviões novos com menor índice de emissão, a adoção de rotas mais eficientes, avanço da tecnologia, mas o principal mitigador será o combustível renovável e mais à frente o uso do hidrogênio verde ou de aviões elétricos.
“2030 será um marco para demonstrar se estamos no caminho certo”, disse Cavallet com a expectativa de que as aeronaves produzidas neste ano sejam 100% compatíveis com o SAF.
Outra perspectiva apresentada foi a de Gilberto Peralta, presidente da Airbus Brazil, que disse que o tráfego aéreo global de passageiros crescerá 3,6% entre 2019 e 2041. Desse modo, é necessária uma abordagem ampla e ambiciosa, o que envolve medidas de mercado e adoção de tecnologias disruptivas (que geram ruptura nos padrões).
Em 2021, a Airbus fez testes com aviões voando com 100% do SAF e este ano se realiza a primeira entrega de Airbus utilizando SAF no Brasil. Hoje os aviões da empresa consomem 25% menos combustível e emitem menos Co2 em comparação com a geração anterior de toda a família Airbus, explica Peralta. Na rota de ambição da Airbus estão as metas de ser o primeiro grande fabricante a oferecer aeronave comercial com impacto neutro no clima até 2035, atingir certificação de 100% de SAF até o final da década e cooperar com parceiros para atingir a meta net zero.
Peralta lembrou que o SAF pode ser obtido a partir de resíduos de cana-de-açúcar ou de madeira, sebo bovino, óleo de cozinha usado e gás de combustão, diversas opções, portanto, e o Brasil pode produzir muito além da sua necessidade, pois possui grande expertise em biocombustíveis e grande potencial de biomassa.
Por fim, diretora substituta do Departamento de Biocombustíveis da Secretaria de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia, Lorena Mendes de Souza, reafirmou que a sustentabilidade converge para a economia do baixo carbono e apontou para fatores positivos como a geração de emprego e renda, a ampliação de novas tecnologias e o desenvolvimento de mercado para fornecedores de bens e serviços quando o tema é combustível do futuro.
Lorena explica que integrando políticas públicas, será possível desenvolver tecnologia veicular nacional, aumentar a eficiência, garantir a transição energética e, em sua análise, com a descarbonização da matriz de transporte.
Como base para a promoção da mobilidade sustentável de baixo carbono, ela detalhou o Projeto de Lei n. 4.516/2023, que apresenta o Programa Nacional de Combustível Sustentável de Aviação, o Programa Nacional de Diesel Verde e o marco legal da captura e da estocagem geológica de dióxido de carbono.
Em suma, Lorena foi enfática ao dizer que o combustível do futuro tem a capacidade de garantir eficiência, segurança energética e competitividade no mercado internacional. “O alinhamento e a integração das políticas são essenciais a fim de assegurar os investimentos necessários e o cumprimento dos compromissos internacionais relativos à descarbonização”, concluiu ela.