Inteligência Artificial para acelerar a Neoindustrialização

Ganhos de eficiência, otimização de processos, produtos inovadores e aumento da competitividade são impactos que a Inteligência Artificial (IA) pode trazer para as empresas industriais. Para debater o tema, e em comemoração ao Dia da Indústria, a Fiesp e o Ciesp realizaram evento especial na segunda-feira (27/5).

Devido à relevância do assunto, a Fiesp criou por meio de resolução uma comissão especial intitulada Inteligência Artificial – Políticas Públicas e Empresariais. “A ideia é trazer para uma única comissão todos os assuntos que dizem respeito a esse tema tão importante”, disse o presidente em exercício da Fiesp, Dan Ioschpe.

“O Brasil passa por um momento interessante. A inteligência artificial oferece muitos desafios e oportunidades, vai trazer avanços para o setor industrial. Obviamente ela traz riscos e questões de competitividade, caso não avancemos na velocidade necessária”, completou.

Com o potencial de gerar entre US$ 2,6 e US$ 4,4 trilhões anualmente, em valor econômico, “a questão passa a ser não se usaremos a IA, mas como a usaremos”, pontuou o presidente do Ciesp, Rafael Cervone.

“Estamos diante de um ponto crítico no qual as indústrias que não incorporarem aplicações de Inteligência Artificial em suas operações diárias correm o risco de não conseguir acompanhar os índices de produtividade que as tornarão competitivas”, alertou.

A tecnologia de IA não é recente. “É uma ideia de 1956”, disse o especialista Ronaldo Lemos, o primeiro palestrante do evento. “O que é recente é a quantidade de dados que nos permite treinar a Inteligência Artificial”. Uma tendência observada por ele é de que, cada vez mais, os produtos desenvolvidos tenham IA embutida. “A OpenAI, por exemplo, quer que a IA seja a nova eletricidade, algo estrutural”.

Muitos usos já estão presentes no cotidiano, incluindo a automação no envio de mensagens, correção de imagens, resumo de textos e recomendação de conteúdos de interesse em plataformas diversas.

Para Lemos, é importante observar o avanço da indústria chinesa, que hoje é o maior competidor de todos os países, e que adotou como pilares a Inteligência Artificial, a computação em nuvem, Internet das Coisas e Big Data. “Até a década de 1970 era um país agrário, com cerca de 700 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza”, pontuou.

“A Inteligência Artificial é uma realidade e aprender a usá-la é absolutamente essencial. Ficar parado não é uma opção”, diz ele, destacando que o Brasil pode ser muito competitivo em aplicações de IA na indústria, no agronegócio, na educação e no governo. “Não podemos desistir de competir de igual para igual com outros países. Ela vai mudar profissões e mudar completamente a forma como trabalhamos e produzimos”, concluiu Lemos.

Empregos versus IA

Na rodada de perguntas, mediada pelo sociólogo e cientista político, Renato Dolci, a plateia abordou vários temas, entre eles, se as pessoas vão perder os empregos para a Inteligência Artificial.

“Ainda não”, disse Lemos, mas destacou que a IA coloca uma pressão muito grande no mercado de trabalho, mas não para a substituição completa do trabalhador.

“Hoje, a pressão é entre as pessoas, sobre quem sabe utilizar melhor a IA para desempenhar funções do seu trabalho”, pontuou Lemos, para quem, até o momento, a ferramenta não é boa o suficiente para substituir um posto de trabalho.

IA e a regulamentação

Lemos citou o Projeto de Lei 2.338/2023, que está no Senado Federal. A regulamentação da nova tecnologia prevê a criação de uma autoridade nacional de Inteligência Artificial, assim como registro dos sistemas.

O Projeto de Lei visa criar o Marco Legal da Inteligência Artificial para estabelecer direitos para a proteção dos cidadãos e criar ferramentas de governança, operadas por instituições de fiscalização e supervisão de IA.

O texto define diversas regras relacionadas ao desenvolvimento e à implementação de sistemas de IA por empresas.

Para Lemos, o Projeto de Lei trata só dos riscos do uso da ferramenta, mas ele defende que o texto deveria tratar  também de emprego e trabalho e de competição e competitividade. Ele alerta que é preciso tomar cuidado com a concentração.

“Aos poucos, a IA pode ir se tornando um substituto para aplicações que hoje são prestadas de forma distribuída, essa perda de diversidade é preocupante, o problema é sistêmico”, disse Lemos.

Outros temas abordados pela plateia foram justamente as relações interpessoais, segurança cibernética nas indústrias e se a IA pode agravar as mudanças climáticas.

Oferecer soluções de modo satisfatório será um dos legados da IA, devido à alta capacidade de processamento de dados. Para outros especialistas que estiveram no evento Dia da Indústria 2024, não se trata apenas de um tema do momento, mas de uma realidade que veio para ficar.

“O custo de para armazenar e processar dados diminuiu bastante. Hoje, as informações estão disponíveis para resolver qualquer problema, e precisamos construir agentes para resolver problemas específicos. Para mim essa é a principal definição de IA com a qual vamos conviver nos próximos 5 a 10 anos”, disse o fundador da 39A Ventures, Gustavo Roxo.

Para o executivo da Pupila Brand Studio, Daniel Alencar, é muito mais simples extrair da IA os resultados que se esperam, pois ninguém precisa entender de programação. “Se formos ao ChatGPT e fizermos uma pergunta teremos a resposta. Obviamente, melhores perguntas geram melhores respostas. É preciso entender e dominar essa nova linguagem que está disponível para todos”, exemplificou.

Fonte: Fiesp